Com obras inacabadas, Aricanduva espera novas enchentes

Os projetos de combate às enchentes feitos pela Prefeitura de São Paulo, durante a atual gestão do prefeito Gilberto Kassab, ainda são vistos com esperança pelas 115 mil pessoas que vivem em aproximadamente 29 mil casas em áreas de risco na capital. Porém, segundo o programa de metas da cidade, entre as 13 medidas anunciadas – como drenagens e limpeza de córregos -, apenas uma foi cumprida: o monitoramento eletrônico de 16 piscinões. E a temporada de chuvas já começou.

“Não vejo nenhuma medida que poderia tirar a gente dessa realidade. Confesso que não sei se esse ano meu barraco irá resistir [às enchentes]”, diz Margareth de Lima Silva, de 44, que vive no Parque Santa Madalena, na zona leste, uma das 609 áreas consideradas com risco alto (R3) ou muito alto (R4) da capital paulista.

Na lista prioritária de ações da prefeitura, apenas duas intervenções de combate às enchentes têm conclusão prevista para 2011, como a inclusão de mais três córregos na cidade (55 já foram concluídos) no Programa Córrego Limpo e as obras de drenagem do córrego Aricanduva, guia do bairro Aricanduva, na zona leste. Além disso, as metas relacionadas aos trabalhos de limpeza de leitos de córregos e bocas de lobo, seja manual ou mecanicamente, também não foram alcançadas.

O índice mais alarmante é de limpeza mecânica. Segundo o documento, dos 230 km previstos para serem limpos no ano de 2011, apenas 92,38 sofreram intervenções até esta quinta-feira (1). Isso significa que apenas 40% do projeto anunciado foi cumprido. Para 2012, a relação de intervenções aumenta, porém só serão finalizadas após a temporada de chuvas.

No primeiro semestre, apenas uma construção será concluída em maio na região central: a bacia da Aclimação, que envolverá a recuperação da rede de galerias, dragagem e renaturalização do córrego Pedra Azul.

O maior ganho para a cidade de São Paulo, de acordo com o cronograma de ações da prefeitura atualizado até outubro, virá entre os meses de agosto e dezembro de 2012. Outras seis intervenções têm previsão de inauguração, entre elas a recuperação das galerias da bacia do Anhangabaú (agosto), a manutenção nos córregos do Paraguai e das Éguas (outubro) e a conclusão do piscinão dos Machados na bacia do Aricanduva (dezembro). Caso todas as medidas sejam cumpridas até dezembro do próximo ano, a região que será mais beneficiada é a zona leste, com quatro ações. As regiões oeste, central, sul e norte receberão duas intervenções cada.

Áreas de risco

Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em seu último estudo divulgado em outubro e realizado em parceira com a Prefeitura de São Paulo, 15,3 km² do território da estão em risco alto (R3) ou muito alto (R4) aos moradores. Outras 527 regiões são consideradas de risco médio baixo (R2 e R1) na cidade.

Em alguns desses locais de alto risco, como os bairros Parque Santa Madalena e Jardim Helena, no extremo leste da capital, os moradores esperam por mais uma temporada de desastres. “Nos preparamos para não perder tudo pela terceira vez. A cada chuva lembramos do que já passamos”, diz a dona de casa Kátia Cristina Bazan, do Parque Santa Madalena.





Nas regiões detectadas pelo IPT como problemáticas, as ocorrências mais frequentes são escorregamentos em áreas de encosta (735 apresentam esse risco) e solapamento (erosão) de margens de córregos (444 regiões). No bairro Jardim Helena, local que ficou conhecido por ser um dos bairros que em 2010 ficou quase três meses alagados em São Paulo, cerca de 70 famílias lidam com o risco de erosão das margens do córrego na região. Segundo a prefeitura, 200 casas foram desapropriadas e posteriormente demolidas após acordos com auxílio moradia.

Porém, a dona de casa Rosicleide Alves, de 23, que não aceitou a indenização de R$ de 300 por mês, ainda vive com o filho de 1 ano nas margens de um córrego. Para ela, “a casa vale mais do que isso” e seria injusto sair por menos. Assim como outros moradores, Rosicleide tem a casa adaptada em caso de novas enchentes. Blocos foram colocados ao lado dos móveis, que estão prontos para serem erguidos quando necessário.

Alagamentos

Com a temporada de chuvas, além das enchentes que atingem bairros extremos da capital e colocam em risco a vida da população, o dia a dia do paulistano também é afetado com alagamentos e os altos índices de trânsito nas principais vias da cidade. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE), a região campeã em ocorrências é zona norte com 11 pontos considerados críticos e sujeitos a alagamentos. Entre os principais trechos, estão: av. Vital Brasil com praça Jorge de Lima, sentido bairro; av. Prof. Francisco Morato com av. Jorge João Saad, em ambos sentidos, e Marginal do Tietê na altura da Ponte dos Remédios.

“Alagados do Pantanal”: Moradores do Jardim Helena temem novos alagamentos no verão

Um dos pontos mais críticos da zona sul é o da avenida Pedro Álvares Cabral com a Praça Ibrahim Nobre, sentido centro. Ainda segundo o CGE, a região é a segunda mais problemática com oito pontos de alagamentos em potencial. Já em terceiro fica a zona leste da capital, com cinco setores com alta probabilidade de inundações. Em três pontos a avenida Radial Leste é listada como a que causa mais transtornos para os motorista em dias de chuvas. Os pontos que merecem atenção estão próximos à rua Jardim Silva, avenida Álvaro Ramos e do viaduto Guadalajara.

Grande São Paulo

Na cidade de Franco da Rocha, região metropolitana de São Paulo, diversos bairros enfrentaram problemas com inundações pelas fortes chuvas que atingiram a região em janeiro. Na ocasião, as comportas da Represa Paiva Castro foram abertas, deixando residências, comércios e prédios da administração pública ilhados e cheios d´água. Os moradores precisaram usar botes para se locomoverem pela cidade. As obras prometidas pelo governo em janeiro só foram assinadas em outubro, e os moradores se preparam novamente para o caos.

“Daqui a pouco eu estou saindo daqui de novo. Esse é um dos bairros mais gostosos de morar, é tranquilo. Eu não tenho problema, estou perto de tudo. Mas chega o final do ano, eu tenho que sair”, conta Marli. Na enchente do início do ano ela só conseguiu salvar pertences pessoais e objetos de valor. “A água vai subindo muito rápido ou você se salva ou salva as coisas. Eu não dou conta de mais uma enchente.”

Fonte: PauliniaNews





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